quinta-feira, 29 de outubro de 2015

ESCOLAS E ESCRIBAS DO ANTIGO ISRAEL

(Autor: Douglas Pereira Jacome)

         O texto selecionado neste estudo foi extraído da obra de Julio Trebolle Barrera1, relativo às escolas e escribas do Antigo Israel. Segundo o autor, para uma compreensão adequada e histórica da formação das coleções bíblicas, exige-se o conhecimento das escolas literárias da época, em particular a busca pelos seus primeiros intérpretes, identificados pelo autor como escribas e copistas.
         A estrutura do texto é formada por seis tópicos inter-relacionados, mas tratados em temas específicos, da seguinte forma: I. Escolas do Mundo Antigo e em Israel; II. Os Escribas; III. Os Rabinos; IV. As Escolas Cristãs; V. Cuidado e Técnicas na Cópia dos Manuscritos Bíblicos; e VI. A Leitura da Bíblia na Sinagoga.
          O primeiro tópico estudado trata das origens do texto bíblico, os quais além de muito antigos foram inicialmente identificados em trabalhos artesanais desenvolvidos por pessoas comuns, sendo assim cunhados de forma bastante rudimentar e numa linguagem popular, mas que tinham como objetivo principal guardar a memória daquele povo. Somente com o advento da escrituração foi possível a reunião desses trabalhos elementares em textos clássicos, os quais serviram posteriormente de base para estudo nas escolas do Antigo Israel, diferentemente de outras culturas do antigo Oriente que tinham como base textos selecionados e de diferentes gêneros literários.
          A invenção do alfabeto foi um facilitador no processo de construção dos textos bíblicos, porém, reservado a um público seleto de indivíduos, denominados “escribas profissionais”. Esses indivíduos eram normalmente integrantes das famílias dominantes da sociedade civil e com trânsito livre no palácio, tendo suas moradias localizadas nos grandes centros urbanos da época. O conhecimento da escrita era adquirido após um longo período de estudos e para um grupo reduzido de pessoas, o que deixava a população afastado desse processo de aprendizagem.
          No Antigo Israel os livros e escritos eram reunidos em rolos e guardados nas Sinagogas sob a vigilância e cuidado dos sacerdotes, onde também funcionavam como bibliotecas do reino, visto que não só mantinham os textos bíblicos mas também outros de interesse público e até mesmo textos que exigiam um certo grau de sigilo.
         O segundo tópico apresenta a figura dos Escribas como um indivíduo de grande influência no governo, cumprindo tarefas variadas de relevância e notoriedade. Esses indivíduos eram oriundos das classes mais privilegiadas do reino, normalmente de famílias ricas. Embora sua função primária fosse a de produção de textos literários era comum o seu envolvimento em funções sociais, porém, pertencentes a um grupo paralelo ao da classe sacerdotal.
          O terceiro tópico é voltado para a caracterização da figura dos Rabinos entre o povo judeu, os quais eram provenientes de diversas classes sociais do reino, mas reconhecidos habitualmente como autoridades religiosas. Essa característica principal era legitimada devido a sua devoção ao estudo da lei mosaica e pela obediência aos mandamentos.
          Muito embora sua autoridade religiosa nem sempre fosse predominante nas comunidades judaicas, mantinham-se como figuras eminentes entre o povo. Seu envolvimento com tarefas políticas era raro, mas eventualmente podiam exercer essas atividades. Era comum os Rabinos ensinarem em suas próprias casas e escolas da época, geralmente voltadas para pequenos grupos de discípulos.
O quarto tópico faz uma narrativa explicativa das escolas cristãs, apontando para o seu surgimento e ambientação do leitor sobre suas raízes e evolução. Para o autor as origens dessas escolas antigas estariam vinculadas aos escritos dos personagens bíblicos mais conhecidos, tais como: Henoc; Esdras; Baruc; Salomão e Moisés.
Outros escritos também tiveram papel importante no processo de transformação dessas escolas, tidas por muitos estudiosos como filosóficas. Trata-se de um tipo de ensino voltado mais para a filosofia do que para a religião, caracterizado pelo apelo à ética e a ordem intelectual como ferramentas para o alcance da comunhão com a divindade.
Segundo o texto o cristianismo nasce justamente desse tipo de ensino sofista, sendo que sua proximidade com as escolas helênicas fortaleceram o discurso de que se tratava de uma teologia cristã dirigida para a filosofia prática, a qual incorporou vários dos seus aspectos cerimoniais e da liturgia religiosa.
O quinto tópico apresenta as técnicas e cuidados utilizadas na antiguidade pelos copistas e intérpretes dos manuscritos bíblicos judaicos e cristãos. As cópias dos manuscritos no judaísmo são caracterizadas pelo rigor na sua confecção devido a seu caráter sacro, tendo como ponto de partida os textos originais, não podendo ser ditado ou conservado sem a devida revisão. Normalmente eram copiados em rolos ou volumes, jamais em códices.
Já as cópias de manuscritos no cristianismo utilizavam o sistema de encadernação em códices, contudo, à semelhança do judaísmos os cristãos faziam uso de profissionais especializados, chamados de mestres, e de instituições próprias para a transmissão do conhecimento.
Segundo o texto, com o tempo os cuidados com as cópias já não eram mais os mesmos, assim como o próprio cristianismo que havia mudado bastante, sendo a manipulação dessas cópias constante entre copistas, tendo seu acesso facilitado ao público em geral. Com a criação dos estabelecimentos de ensino (escola de Alexandria), o estudo dos textos cristãos foram se ajustando ao modo das técnicas de estudo filosóficos e métodos da tradição judaica.
          O sexto e último tópico trata da leitura da bíblia nas sinagogas, fato este evidenciado somente a partir do ano 70 d.c, ou seja, posterior à destruição do templo. Não há registros de que esse tipo de leitura tivesse a intenção de ensino, muito embora algumas sinagogas fossem construídas contendo salas de aula, onde discípulos e mestres se reuniam.
          Segundo relato do texto era comum nas sinagogas a leitura da Tora, o livros dos profetas e os Salmos, as quais seguiam basicamente um ritmo baseado em porções semanais, chamadas de ciclos de leitura, podendo ser anual ou trienal. Esse tipo de leitura era normalmente exercido por um sacerdote, mas outros também poderiam ser leitores. As sinagogas em Israel estavam concentradas na sua maioria em Jerusalém, mas existiam outras em cidades próximas.
          O texto de 2Tm 3:16-17, diz que: “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção e para a instrução na justiça, para que o homem de Deus seja apto e plenamente preparado para toda boa obra”2.
          No trecho citado acima da segunda carta a Timóteo escrita pelo Apóstolo Paulo, fica clara a intenção do autor em demonstrar o valor das Escrituras Sagradas e sua função, somente por este fato já seria suficiente para atestar quão importante é para o buscador do conhecimento bíblico conhecer a trajetória desse livro extraordinário.
          Os vários gêneros literários combinados encontrados na bíblia podem proporcionar uma experiência religiosa sem igual, nenhum outro livro na história da humanidade trouxe tamanha mudança na vida das pessoas, pois mesmo depois de tantos anos as palavras deste livro sagrado continuam a inspirar e aumentar a fé do povo.

BIBLIOGRAFIA
1 TREBOLLE BARRERA, Julio. A Bíblia judaica e a Bíblia cristã: introdução à história da bíblia / Julio Trebolle Barrera; tradução de Ramiro Mincato. Petrópolis, RJ: Vozes, 1995, pp. 131-145.
2 Bíblia de Estudo Arqueológico NVI / Equipe de tradução: Claiton André Kuns, Eliseu Manoel dos Santos e Marcelo Smargiasse; Prefácio da Edição Brasileira: Luiz Sayão. – São Paulo: Editora Vida, 2013. 

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