ESCOLAS E ESCRIBAS DO ANTIGO ISRAEL
(Autor: Douglas Pereira Jacome)
O texto selecionado neste estudo
foi extraído da obra de Julio Trebolle Barrera1,
relativo às escolas e escribas do Antigo Israel. Segundo o autor,
para uma compreensão adequada e histórica da formação das
coleções bíblicas, exige-se o conhecimento das escolas literárias
da época, em particular a busca pelos seus primeiros intérpretes,
identificados pelo autor como escribas e copistas.
A estrutura do texto é formada
por seis tópicos inter-relacionados, mas tratados em temas
específicos, da seguinte forma: I. Escolas do Mundo Antigo e em
Israel; II. Os Escribas; III. Os Rabinos; IV. As Escolas Cristãs; V.
Cuidado e Técnicas na Cópia dos Manuscritos Bíblicos; e VI. A
Leitura da Bíblia na Sinagoga.
O primeiro tópico estudado
trata das origens do texto bíblico, os quais além de muito antigos
foram inicialmente identificados em trabalhos artesanais
desenvolvidos por pessoas comuns, sendo assim cunhados de forma
bastante rudimentar e numa linguagem popular, mas que tinham como
objetivo principal guardar a memória daquele povo. Somente com o
advento da escrituração foi possível a reunião desses trabalhos
elementares em textos clássicos, os quais serviram posteriormente de
base para estudo nas escolas do Antigo Israel, diferentemente de
outras culturas do antigo Oriente que tinham como base textos
selecionados e de diferentes gêneros literários.
A invenção do alfabeto foi um
facilitador no processo de construção dos textos bíblicos, porém,
reservado a um público seleto de indivíduos, denominados “escribas
profissionais”. Esses indivíduos eram normalmente integrantes das
famílias dominantes da sociedade civil e com trânsito livre no
palácio, tendo suas moradias localizadas nos grandes centros
urbanos da época. O conhecimento da escrita era adquirido após um
longo período de estudos e para um grupo reduzido de pessoas, o que
deixava a população afastado desse processo de aprendizagem.
No Antigo Israel os livros e
escritos eram reunidos em rolos e guardados nas Sinagogas sob a
vigilância e cuidado dos sacerdotes, onde também funcionavam como
bibliotecas do reino, visto que não só mantinham os textos bíblicos
mas também outros de interesse público e até mesmo textos que
exigiam um certo grau de sigilo.
O segundo tópico apresenta a
figura dos Escribas como um indivíduo de grande influência no
governo, cumprindo tarefas variadas de relevância e notoriedade.
Esses indivíduos eram oriundos das classes mais privilegiadas do
reino, normalmente de famílias ricas. Embora sua função primária
fosse a de produção de textos literários era comum o seu
envolvimento em funções sociais, porém, pertencentes a um grupo
paralelo ao da classe sacerdotal.
O terceiro tópico é voltado
para a caracterização da figura dos Rabinos entre o povo judeu, os
quais eram provenientes de diversas classes sociais do reino, mas
reconhecidos habitualmente como autoridades religiosas. Essa
característica principal era legitimada devido a sua devoção ao
estudo da lei mosaica e pela obediência aos mandamentos.
Muito embora sua autoridade
religiosa nem sempre fosse predominante nas comunidades judaicas,
mantinham-se como figuras eminentes entre o povo. Seu envolvimento
com tarefas políticas era raro, mas eventualmente podiam exercer
essas atividades. Era comum os Rabinos ensinarem em suas próprias
casas e escolas da época, geralmente voltadas para pequenos grupos
de discípulos.
O
quarto tópico faz uma narrativa explicativa das escolas cristãs,
apontando para o seu surgimento e ambientação do leitor sobre suas
raízes e evolução. Para o autor as origens dessas escolas antigas
estariam vinculadas aos escritos dos personagens bíblicos mais
conhecidos, tais como: Henoc; Esdras; Baruc; Salomão e Moisés.
Outros
escritos também tiveram papel importante no processo de
transformação dessas escolas, tidas por muitos estudiosos como
filosóficas. Trata-se de um tipo de ensino voltado mais para a
filosofia do que para a religião, caracterizado pelo apelo à ética
e a ordem intelectual como ferramentas para o alcance da comunhão
com a divindade.
Segundo
o texto o cristianismo nasce justamente desse tipo de ensino sofista,
sendo que sua proximidade com as escolas helênicas fortaleceram o
discurso de que se tratava de uma teologia cristã dirigida para a
filosofia prática, a qual incorporou vários dos seus aspectos
cerimoniais e da liturgia religiosa.
O
quinto tópico apresenta as técnicas e cuidados utilizadas na
antiguidade pelos copistas e intérpretes dos manuscritos bíblicos
judaicos e cristãos. As cópias dos manuscritos no judaísmo são
caracterizadas pelo rigor na sua confecção devido a seu caráter
sacro, tendo como ponto de partida os textos originais, não podendo
ser ditado ou conservado sem a devida revisão. Normalmente eram
copiados em rolos ou volumes, jamais em códices.
Já
as cópias de manuscritos no cristianismo utilizavam o sistema de
encadernação em códices, contudo, à semelhança do judaísmos os
cristãos faziam uso de profissionais especializados, chamados de
mestres, e de instituições próprias para a transmissão do
conhecimento.
Segundo
o texto, com o tempo os cuidados com as cópias já não eram mais os
mesmos, assim como o próprio cristianismo que havia mudado bastante,
sendo a manipulação dessas cópias constante entre copistas, tendo
seu acesso facilitado ao público em geral. Com a criação dos
estabelecimentos de ensino (escola de Alexandria), o estudo dos
textos cristãos foram se ajustando ao modo das técnicas de estudo
filosóficos e métodos da tradição judaica.
O sexto e último tópico trata
da leitura da bíblia nas sinagogas, fato este evidenciado somente a
partir do ano 70 d.c, ou seja, posterior à destruição do templo.
Não há registros de que esse tipo de leitura tivesse a intenção
de ensino, muito embora algumas sinagogas fossem construídas
contendo salas de aula, onde discípulos e mestres se reuniam.
Segundo relato do texto era
comum nas sinagogas a leitura da Tora, o livros dos profetas e os
Salmos, as quais seguiam basicamente um ritmo baseado em porções
semanais, chamadas de ciclos de leitura, podendo ser anual ou
trienal. Esse tipo de leitura era normalmente exercido por um
sacerdote, mas outros também poderiam ser leitores. As sinagogas em
Israel estavam concentradas na sua maioria em Jerusalém, mas
existiam outras em cidades próximas.
O texto de 2Tm 3:16-17, diz que:
“Toda a Escritura é
inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a
correção e para a instrução na justiça, para que o homem de Deus
seja apto e plenamente preparado para toda boa obra”2.
No
trecho citado acima da segunda carta a Timóteo escrita pelo Apóstolo
Paulo, fica clara a intenção do autor em demonstrar o valor das
Escrituras Sagradas e sua função, somente por este fato já seria
suficiente para atestar quão importante é para o buscador do
conhecimento bíblico conhecer a trajetória desse livro
extraordinário.
Os vários gêneros literários
combinados encontrados na bíblia podem proporcionar uma experiência
religiosa sem igual, nenhum outro livro na história da humanidade
trouxe tamanha mudança na vida das pessoas, pois mesmo depois de
tantos anos as palavras deste livro sagrado continuam a inspirar e
aumentar a fé do povo.
BIBLIOGRAFIA
1
TREBOLLE
BARRERA, Julio. A
Bíblia judaica e a Bíblia cristã: introdução à história da
bíblia /
Julio Trebolle Barrera; tradução de Ramiro Mincato. Petrópolis,
RJ: Vozes, 1995, pp. 131-145.
2
Bíblia
de Estudo Arqueológico NVI / Equipe de tradução: Claiton André
Kuns, Eliseu Manoel dos Santos e Marcelo Smargiasse; Prefácio da
Edição Brasileira: Luiz Sayão. – São Paulo: Editora Vida,
2013.
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