sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

A IGREJA E SEU PAPEL DIANTE DE CALAMIDADES E DOS DIREITOS HUMANOS

(Autor: Douglas Pereira Jácome)

        A igreja é certamente uma das instituições mais antigas na sociedade tendo como condição fundamental a transformação do meio social onde está inserida, vivendo o testemunho do amor de Deus em suas vidas, visando alcançar a todos indistintamente. Sua função eclesiástica é sua principal característica, mas também deve exercer um papel social igualmente importante.
          Esta tarefa tem como objetivo desenvolver um texto argumentativo apresentando a contribuição social da Igreja diante de situações de emergência ou calamidades públicas, usando como exemplo a catástrofe ocorrida em Mariano (Minas Gerais) e os atentados praticados pelo Estado Islâmico em Paris, no final de semana do dia 15 de novembro de 2015. Além disso, comentar sobre a participação da Igreja na busca de uma prática de fé cidadã frente a Declaração Universal dos Direitos Humanos.
          Os desastres naturais ou eventos calamitosos provocados pelo homem sempre existiram e certamente continuará a ocorrer. A história da igreja tem demonstrado em vários momento o seu amor solidário aos necessitados nessas situações emergenciais, sejam elas naturais ou não, onde pessoas de toda parte se envolveram e muitas vezes no exercício da solidariedade perderam suas vidas. Talvez essa justificada ação solidária e de amor ao próximo venha do exemplo percebido na vida de Jesus Cristo, que para remir a humanidade da condenação eterna “não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate de muitos” (BÍBLIA, N.T. – Mateus 20.28).
          O amor incondicional de Deus provocado por sua mensagem redentora devem ser acompanhadas de atitudes de fé, de esperança e da prática de boas obras, esta é certamente a instrução deixada pelo Senhor Jesus aos seus seguidores: “Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus.” (BÍBLIA, N.T. – Mateus 5.16). A esperança projetada na figura do Salvador era o que movimentava a Igreja nos seus primeiros séculos, como se pode ver no dizer do apóstolo Paulo quando escreve a Tito para incentivá-lo a exortar a Igreja na esperança em Cristo; “aguardando a bendita esperança e a manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador Jesus Cristo; o qual a si mesmo se deu por nós, a fim de remir-nos de toda a iniquidade e purificar, para si mesmo, um povo exclusivamente seu, zeloso de boas obras.” (BÍBLIA, N.T. – Tito 2.13-14).
         Na atualidade, em particular no nosso país, é cada vez mais comum encontrarmos pessoas em situação de vulnerabilidade ou vitimadas por desastres naturais que expresse a idéia de que aquilo que aconteceu é como se fosse um juízo de Deus. Parece que há algum tipo de engano nesse entendimento. Pois, se o homem não respeita as leis da natureza imposta pelo Criador e em consequência disso sofre em razão dessa negligência, porque responsabilizar e culpar a Deus por esta tragédia? É certo que a palavra de Deus nos ensina que Ele reina soberanamente sobre toda a criação, conforme declara o salmista; “Ao Senhor pertence a terra e tudo o que nela contém, o mundo e os que nele habitam.” (BÍBLIA, A.T. – Salmos 24.1); e mais “Teus são os céus, tua, a terra; o mundo e a sua plenitude, tu os fundaste.” (BÍBLIA, A.T. – Salmos 89.11).
          As escrituras afirmam que tudo está sob os olhos e domínio de Deus, mas isso não significa que tudo o que ocorre na criação e na história da humanidade é obra direta da intervenção divina. Os textos dos Salmos acima mencionados não indicam uma interferência direta de Deus nas calamidades ou desastras naturais por causa da sua soberania, antes somente evidencia Deus como o criador de tudo o que existe. Nesse sentido os textos remetem a tradição da criação do universo e as primeiras coisas dessa criação registradas no livro de Gênesis. Neste livro parece ser expressa a idéia de que o criador estabeleceu uma ordem natural que governaria a criação em sua sustentação e dinâmica por meio da existência. Também fica claro que a negligência ou alteração dessa ordem estabelecida trará consequências e complicações na natureza equivalentes ao estado de desordem.
         Na visão de Claudionor Correia de Andrade, a Igreja é um “Organismo místico composto por todos os que, pela fé, aceitaram o sacrifício vicário de Cristo, e têm a Palavra de Deus como a sua única regra de fé e conduta.”1. Desde os primeiros séculos uma das características da Igreja é ajudar e contribuir com os que precisam de ajuda em especial nos tempos difíceis. Logo no início da Igreja, conforme narra a Bíblia no livro de Atos 3.39-47, encontramos os cristãos vivendo em comunidades, e um suprindo as necessidades do outro. Já em Atos 11.27-30 encontramos a ação dos discípulos que se uniram, planejaram e enviaram alimentos aos irmãos da Judéia, que passavam por grande necessidade.
          Diante de cenários sociais catastróficos, lembrando aqui os ataques terroristas mundo a fora e de outras tantas calamidades públicas ocorridas, inclusive no Brasil, a igreja de Cristo tem um papel fundamental nesse contexto para a sociedade. Diferentemente de qualquer outra crença os cristãos não podem ficar indiferentes diante de tantas tragédias e infortúnios humanos, precisam ser capazes de demonstrar o amor ao próximo pregado nas igrejas, além disso, se doar em favor dos menos favorecidos, não ficar apenas no discurso, não estar limitado somente à esfera espiritual, é preciso levantar-se. A fé é a prática do amor, a igreja tem como dever observar um código moral e ético mais rigoroso que é a palavra de Deus e assim desfrutar de uma vida em comunidade e familiar mais segura.
          Em situações de emergência ou desastres naturais, não basta apenas ação solidárias da igreja nesses momentos, precisa-se exercitar constantemente o verdadeiro amor pregado por Cristo, planejar e conhecer as formas de como se pode ajudar nesses casos e no cotidiano da vida humana, antes, durante e depois dos acontecimentos, como no dizer de Bernardo Salovi: “A maioria das igrejas é extremamente rica de pessoas com talentos e habilidades, que podem ser usadas na execução dos seus planos e no exercício de atividades em prol da comunidade.”2 Assim, antes de mais nada é preciso de capacitar os membros da congregação, este sempre foi o papel da igreja, preparar seus discípulos à semelhança de Jesus Cristo e com capacidade de amar, ser luz e sal da terra, esperança e benção para todos.
Da mesma forma a igreja deve ser o defensor da preservação e garantia dos direitos do homem, visto que a doutrina dos Direitos Humanos tem sua origem no Cristianismo, em sua ética, e na concepção de pessoa humana da qual é portador3, mesmo reconhecendo que houve por parte das Igrejas Cristãs em geral, forte resistência em aceitar sua produção inicial. Essa dificuldade se estabeleceu em grande parte ao modo e ao contexto como surgiu primeiramente a elaboração filosófica dos Direitos Humanos.
O contexto da Igreja de Cristo atual deve ser o de compreender que seu compromisso com a justiça, cidadania e defesa dos Direitos Humanos não é meramente acessório, mas principalmente deve fazer parte de sua essência e missão evangelística de amor ao próximo. O exercício desse compromisso se faz em diferentes campos e dimensões, que incluem a denúncia profética, a formação de consciências, a promoção de lideranças e o apoio efetivo à organização popular.
Ao longo da história da humanidade temos milhares de exemplos onde clérigos, religiosas, leigos e leigas foram martirizados por causa desse compromisso cristão com a causa dos menos favorecidos e a promoção da justiça e cidadania.

1 ANDRADE, Claudionor Correia de, Dicionário Teológico, Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembléias de Deus, 1998, p. 182.
2 SALOVI, Bernardo, Ação social da Igreja de Cristo, Rio de Janeiro: JUERP, 1998, p, 43.
3 Cf N. Bobbio, (org. M. Bovero), Teoria Geral da Política. A Filosofia Política e as Lições dos Clássicos. Editora Campos, Rio de Janeiro, 2000, p.478.

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