A IGREJA E SEU PAPEL DIANTE DE CALAMIDADES E DOS DIREITOS HUMANOS
(Autor: Douglas Pereira Jácome)
A igreja é
certamente uma das instituições mais antigas na sociedade tendo
como condição fundamental a transformação do meio social onde
está inserida, vivendo o testemunho do amor de Deus em suas vidas,
visando alcançar a todos indistintamente. Sua função eclesiástica
é sua principal característica, mas também deve exercer um papel
social igualmente importante.
Esta
tarefa tem como objetivo desenvolver um texto argumentativo
apresentando a contribuição social da Igreja diante de situações
de emergência ou calamidades públicas, usando como exemplo a
catástrofe ocorrida em Mariano (Minas Gerais) e os atentados
praticados pelo Estado Islâmico em Paris, no final de semana do dia
15 de novembro de 2015. Além disso, comentar sobre a participação
da Igreja na busca de uma prática de fé cidadã frente a Declaração
Universal dos Direitos Humanos.
Os
desastres naturais ou eventos calamitosos provocados pelo homem
sempre existiram e certamente continuará a ocorrer. A história da
igreja tem demonstrado em vários momento o seu amor solidário aos
necessitados nessas situações emergenciais, sejam elas naturais ou
não, onde pessoas de toda parte se envolveram e muitas vezes no
exercício da solidariedade perderam suas vidas. Talvez essa
justificada ação solidária e de amor ao próximo venha do exemplo
percebido na vida de Jesus Cristo, que para remir a humanidade da
condenação eterna “não
veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate de
muitos” (BÍBLIA,
N.T. – Mateus 20.28).
O
amor incondicional de Deus provocado por sua mensagem redentora devem
ser acompanhadas de atitudes de fé, de esperança e da prática de
boas obras, esta é certamente a instrução deixada pelo Senhor
Jesus aos seus seguidores: “Assim
brilhe também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as
vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus.”
(BÍBLIA, N.T. – Mateus 5.16). A esperança projetada na figura do
Salvador era o que movimentava a Igreja nos seus primeiros séculos,
como se pode ver no dizer do apóstolo Paulo quando escreve a Tito
para incentivá-lo a exortar a Igreja na esperança em Cristo;
“aguardando
a bendita esperança e a manifestação da glória do nosso grande
Deus e Salvador Jesus Cristo; o qual a si mesmo se deu por nós, a
fim de remir-nos de toda a iniquidade e purificar, para si mesmo, um
povo exclusivamente seu, zeloso de boas obras.”
(BÍBLIA, N.T. – Tito 2.13-14).
Na
atualidade, em particular no nosso país, é cada vez mais comum
encontrarmos pessoas em situação de vulnerabilidade ou vitimadas
por desastres naturais que expresse a idéia de que aquilo que
aconteceu é como se fosse um juízo de Deus. Parece que há algum
tipo de engano nesse entendimento. Pois, se o homem não respeita as
leis da natureza imposta pelo Criador e em consequência disso sofre
em razão dessa negligência, porque responsabilizar e culpar a Deus
por esta tragédia? É certo que a palavra de Deus nos ensina que Ele
reina soberanamente sobre toda a criação, conforme declara o
salmista; “Ao
Senhor pertence a terra e tudo o que nela contém, o mundo e os que
nele habitam.”
(BÍBLIA, A.T. – Salmos 24.1); e mais “Teus
são os céus, tua, a terra; o mundo e a sua plenitude, tu os
fundaste.”
(BÍBLIA, A.T. – Salmos 89.11).
As
escrituras afirmam que tudo está sob os olhos e domínio de Deus,
mas isso não significa que tudo o que ocorre na criação e na
história da humanidade é obra direta da intervenção divina. Os
textos dos Salmos acima mencionados não indicam uma interferência
direta de Deus nas calamidades ou desastras naturais por causa da sua
soberania, antes somente evidencia Deus como o criador de tudo o que
existe. Nesse sentido os textos remetem a tradição da criação do
universo e as primeiras coisas dessa criação registradas no livro
de Gênesis. Neste livro parece ser expressa a idéia de que o
criador estabeleceu uma ordem natural que governaria a criação em
sua sustentação e dinâmica por meio da existência. Também fica
claro que a negligência ou alteração dessa ordem estabelecida
trará consequências e complicações na natureza equivalentes ao
estado de desordem.
Na
visão de Claudionor Correia de Andrade, a Igreja é um “Organismo
místico composto por todos os que, pela fé, aceitaram o sacrifício
vicário de Cristo, e têm a Palavra de Deus como a sua única regra
de fé e conduta.”1.
Desde
os primeiros séculos uma das características da Igreja é ajudar e
contribuir com os que precisam de ajuda em especial nos tempos
difíceis. Logo no início da Igreja, conforme narra a Bíblia no
livro de Atos 3.39-47, encontramos os cristãos vivendo em
comunidades, e um suprindo as necessidades do outro. Já em Atos
11.27-30 encontramos a ação dos discípulos que se uniram,
planejaram e enviaram alimentos aos irmãos da Judéia, que passavam
por grande necessidade.
Diante
de cenários sociais catastróficos, lembrando aqui os ataques
terroristas mundo a fora e de outras tantas calamidades públicas
ocorridas, inclusive no Brasil, a igreja de Cristo tem um papel
fundamental nesse contexto para a sociedade. Diferentemente de
qualquer outra crença os cristãos não podem ficar indiferentes
diante de tantas tragédias e infortúnios humanos, precisam ser
capazes de demonstrar o amor ao próximo pregado nas igrejas, além
disso, se doar em favor dos menos favorecidos, não ficar apenas no
discurso, não estar limitado somente à esfera espiritual, é
preciso levantar-se. A fé é a prática do amor, a igreja tem como
dever observar um código moral e ético mais rigoroso que é a
palavra de Deus e assim desfrutar de uma vida em comunidade e
familiar mais segura.
Em
situações de emergência ou desastres naturais, não basta apenas
ação solidárias da igreja nesses momentos, precisa-se exercitar
constantemente o verdadeiro amor pregado por Cristo, planejar e
conhecer as formas de como se pode ajudar nesses casos e no cotidiano
da vida humana, antes, durante e depois dos acontecimentos, como no
dizer de Bernardo Salovi: “A
maioria das igrejas é extremamente rica de pessoas com talentos e
habilidades, que podem ser usadas na execução dos seus planos e no
exercício de atividades em prol da comunidade.”2 Assim,
antes de mais nada é preciso de capacitar os membros da congregação,
este sempre foi o papel da igreja, preparar seus discípulos à
semelhança de Jesus Cristo e com capacidade de amar, ser luz e sal
da terra, esperança e benção para todos.
Da
mesma forma a igreja deve ser o defensor da preservação e garantia
dos direitos do homem, visto que a doutrina dos Direitos Humanos tem
sua origem no Cristianismo, em sua ética, e na concepção de pessoa
humana da qual é portador3,
mesmo reconhecendo que houve por parte das Igrejas Cristãs em geral,
forte resistência em aceitar sua produção inicial. Essa
dificuldade se estabeleceu em grande parte ao modo e ao contexto como
surgiu primeiramente a elaboração filosófica dos Direitos Humanos.
O
contexto da Igreja de Cristo atual deve ser o de compreender que seu
compromisso com a justiça, cidadania e defesa dos Direitos Humanos
não é meramente acessório, mas principalmente deve fazer parte de
sua essência e missão evangelística de amor ao próximo. O
exercício desse compromisso se faz em diferentes campos e dimensões,
que incluem a denúncia profética, a formação de consciências, a
promoção de lideranças e o apoio efetivo à organização popular.
Ao
longo da história da humanidade temos milhares de exemplos onde
clérigos, religiosas, leigos e leigas foram martirizados por causa
desse compromisso cristão com a causa dos menos favorecidos e a
promoção da justiça e cidadania.
1
ANDRADE, Claudionor Correia de, Dicionário Teológico, Rio de
Janeiro: Casa Publicadora das Assembléias de Deus, 1998, p. 182.
3
Cf N. Bobbio, (org. M. Bovero), Teoria
Geral da Política. A Filosofia Política e as Lições dos
Clássicos.
Editora
Campos, Rio de Janeiro, 2000, p.478.
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